sábado, 30 de julho de 2016

Catedrais de ossos

                                                

                                                                                                                                                      
 
Imagens vivas, através da tela, em nossa sala,
Filme vivo, em tempo real, a cores, nos cala!
E a argamassa, antes monumento, agora é entulho.
Barba longa, dentes alvos, rindo e festejador,
Do iconoclasta ato dos camikases de sua infeudação.
Mundo apalermado, estarrecido, todo interjeição!
O revide aos fanáticos nefastos, num estalar de dedos,
Veio vestido numa capa disfarçada de patriotismo.
Massacrando como lhe foi feito em um zás:
Abdicaram da oportunidade de proclamar a Paz!

 
Precisamos entender a ebulição das eras;
Qual a razão das manadas e das moneras?
Por que o principal elemento é o carbono?
E por que compõe a vida e a morte?
Precisamos ouvir o choro das corredeiras;
O murmurar das ondas nos mares de fronteira;
O gotejar de lágrimas das noites úmidas;
O ladrar de cães - uivos chorosos - em despedidas;
O arrulho das folhas no agasalho de noctivos ventos;
A frieza de ações funéreas, com pompas e intentos.

 
Precisamos acompanhar de perto a transição
Do homem, animal, ainda em formação,
Que constrói com barbárie monumentos,
Ímprobo e prístino em desatino se autodestroem.
Precisamos ouvir os canhões bramindo a guerra,
As razões, no bojo, que são ditas que lhe encerra.
Andar sorrateiros sobre os escombros.
Ver grilhões forjados na trempe da discórdia!
Descobrir inflados mentores fátuos – que biscas!
Com historicismo, imponderável Nume, ninguém trisca!

 
Precisamos visitar góticas catedrais de ossos
Que alinhadas em desarmonia, são destroços,
De altar mor de resplendor sem brilho,
Onde candelabros de crânios ardendo em velas,
Iluminam grandes vitrais, caninos enfurecidos!
Ali uma corja ossiforme traz seus punidos.
Quanta mazela!  – Visão do longe sem perspectiva.
Púlpito trono do ultraje. Ação infame!
Com um perônio infectado, batuta funesta,
Conduzem malfazeja e daninha orquestra!

 
Atitudes pérfidas da veterana horda hominal
Emergem de encéfalos súcios, ungindo a confraria do mal.
Pugnazes! Psiu! Não há sonhos para os mortos!
A morte... Que tenha pretensão!- Nos divorcia da vida.
A imensidão de polme da caliça ainda virgem,
Permanecerá enquanto defloradores não surgem.
Cinza agora, resultado da ação dos incendiários;
Ainda dormita no seio um potente braseiro.
Uma legião de espectros rígidos milite consorte
Rasga a cortina e entra com sua grife – a morte!

 
Agora uma figura
Ossama feita, impura...
Vai cambaleando,
Vai andando, andando;
Pisando ogiva, pisando mina...
Chutando ossos de carnificina!

 
E a dissoluta figura errante,
Na jardinagem de gleba bacante;
Semeia messes futuras,
Onde fenecerão criaturas.
O homem se brutaliza
Quando a morte banaliza.

 
Exibe com orgulho, ações,
De sua bandeira, as nações,
E na contramão
De seu alcorão
Chama de Jihad,
O ato de matar.

 
...Vermes roerão suas carnes frias,
Que ágape visceral será um dia!
Seu cadáver cantado em poemeto,
Futuramente esquálido esqueleto,
Sorrirá solenemente à memória
Contando sua funesta história!

 
Mesmo com tudo que terá sofrido,
O homem nunca terá aprendido
Que a glória da morte é inglória
E contra a vida não há vitória!
Morrendo seu – um único – filho
Morreu de seu hino o estribilho!

  
Para o insurreto,
Deus não abre portas!
Ele escreve correto
Em linhas tortas!

 
Não acredito, mesmo,
Chamada de guerra santa,
Que mortes havendo a esmo
Deus aprove brutalidade tanta!

 
Ora, Deus é justo e é vida!
 – São todos filhos de Deus!
Essa celeuma é cancro, é ferida,
Ele, não aprova isso entre os seus.

 
Apologético, sistemático sintético,
Tu, ocaso integrando a noite,
Desmoronando o mandar do dia estético,
Promoveu a desorganização da matéria e foi-te,
Levando contigo o alumiar do sol;
O breu tomou conta logo após o arrebol!

 
Ó corpo que vestiu pólvora,
Vê teu rastilho na multidão.
Não está vingando a tua hora
Com tua própria explosão!
Ó víbora! Ó aracnídeo com peçonha,
Tua experiência de vida é medonha!

 
Qual a vida, qual a experiência,
Está aqui, sendo referida,
Se todo dia nova inexperiência
Ofende-nos ou é ofendida
Batendo insistentemente à nossa porta?
E... Simplesmente como aprendizagem se suporta!

 
O dinheiro corrompe – que insensatez!
Deixa o homem ranzinza, opressivo.
É a ignomínia do corruptor outra vez,
Flagelando a ignara gente, o lesivo!
Dizendo – meu Deus! – ter boa intenção,
Faz maldade com avidez de glutão!

 
Meu Deus, que Hospício!
Por que tanta violência?
Por que tanta vida em sacrifício?
- Ó Deus, misericórdia, clemência!
Que proceder, escuso, feio.
“De boa intenção, o inferno está cheio!”

 
Vais, devasta ó solitária dama!
Devastas com teu canino encabado,
Honra o teu nome, a tua fama.
Cádi da mina acaba o inacabado!
...E justificando a tua visita:
Garrida – É por amor! – Grita.

 
Gandhi, Luther King, Antônio Conselheiro,
Padre Cícero.  Acordem! Acordem!
Por Shiva, venham Alvissareiros,
De suas últimas moradas levantem!
Ó Pacificadores, Ó revolucionários,
Tragam-nos uma Tereza de Calcutá!
Que chovam milhões de voluntários,
Darcs, Anas Néri – Euclides vem denunciar!

 
Acabem com essas guerras étnicas, religiosas, urbanas,
Que seguem com seus rastilhos imolando vítimas
Inocentes. Esse proceder, à humanidade, profana!
Não importa onde esteja à morte fica íntima.
Na rua, em casa, o cidadão está acuado.
Involuntários, agora, somos reféns do medo.
Cristo, Krishna! Em seus braços quero ser amparado.
O exílio domiciliar é nosso refúgio e degredo!

 Zé Salvador

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