quinta-feira, 14 de abril de 2016

PUXE O TAMBORETE, VAMO PROSIÁ


 

 

                                       Lá pras banda que eu moráva,
                                       A minha fama, seu moço
                                       De boca im boca curria.
                                                                Zé da luz.

 

Isturdia tava eu e Guza...
Só nóiz dôis oiano a lua
Sentado num tamburete,
Bem ligêro chegô nua
As lembrança do passado
Mincomodano os lembrado:
– Toma qui a prosa é tua”!

Nóiz num chamego danado,
Poiz os fí num tava in casa,
Me dispúis a preguntá;
Guza cum a cara im brasa,
Eu achano graça mi assunto, 
Di coisa que nóiz dôis junto 
Quando im novu demo asa:

– Cê si lembra de nóiz dôis
Qui ficava ali bejano
Iscundindin tráis dar môita?
Cê toda prosa gostano,
Eu cum mêdo, da bixiga,
Caí núns pé di unrtíga
E deu, cê ficô mangano!?

A muié se rindo toda
Ficô sem nada falá
Eu naquela prosa andei:
Cê sabi quem tava lá?
Respostô achano graça,
Proquê num viu a disgraça
Du irmão dela aculá!

Num si lembra máiz eu digo:
É qui ví seu irmão Tôn’iõ
Vin, correno pelu acerô;
E o cão tava medôn’iõ,
Perto da moita dispôis,
Ficô oiano nóiz dôis,
Atrapaiano meu sôn’iõ

Pió qui o bicho rúim,
Tombém tava cum facão
E logo bem ditráis dele,
Num póssu garantí, não,
Máiz ví dôis caba furnido
Fiquei na moita iscundido
Pro mode sarvá mêus grão!

–Amigo num mi pregunte
Onde qui nóiz foi pará.
Pruquê nenhum di nóiz dôis
Hogi ia sabê lhi contá.
Dispôis daz hora confuza
Eu dissi tudin pra Guza,
Assin Cuma vô falá:

– Antis deu mi arrependê,
Guza mi iscuita agóra,
Possu num querê dispôis
Si o culumin caipora
Muntado num porco inspim
Chegá bem pertim de mim
Dizeno assim:   – Vai timbora!

Intão si eu arrisuví
Qui ia mi casá cuntigo;
Butei isso na cachola
Foi pru causo do pirigo...
Máiz eu ti amava tombém,
Inda máiz qui tinha arguém
Quereno falá cumigo!

– Amigo eu fui soím sôrto,
Máiz o véi Zuza era brabo,
Ficou a mi pastorá,
Eu liso qui nem quiabo;
Onde eu tava ele tava,
Máiz deli eu mi afastava
Iguá da cruz corri o diabo!

Só qui Tôn’iõ  o irmão dela
Qui tombém mi amiaçô,
Mi pegô pelas bertura
Dizeno:  – Si lambusô,
O    tava açucarado,
Tu mexeu, ficô melado
Chafurdô e num comprô!

Mi levô lá na budega
Do véi Chico Liocárdi
Pediu cachaça e mi dissi
Bebericano : – Covardi
Num parece homi, não;
Meteu os pé pelarmão,
Qui a noite inté virô tardi”!

Istufei qui nem curú,
Iguá sapo, cumi brasa,
Bibi cachaça máiz eli
Eli dissi: – Agóra casa;
Se num repará teu erro,
Amanhã vô teu interro
Sem caxão na cova rasa”!

– Meu amigo vô dizê:
Eli tremeno iscumava
Que nem garrote acuado
Oindo im meus zói  falava,
A fala dele era urro,
Me chamô “rabu de burro”
Naquela prosa que tava:

– Pur issu qui eu dissi: Guza
Nóiz vamo casá agóra
E vamo dá mutos fí
Pro Deus e nossa sinhóra,
Véi Zuza vai se orguiá
Quando nóiz dôis se casá,
Essi dia num demora!

Isturdia na igreja,
uando fui mi confessá,
Disse assim: – Seu  vigáro,
Num vin aqui prosiá
Eu qui sô um maluvido,
Agóra tô arrisuvido,
Ligêro eu quero casá!

O meu pecado é só um,
Revereno foi a Guza,
Anquela toda furnida,
U’a das fia do véi Zuza,
Nóiz avançô o siná,
Máiz pódexá, vô casá,
O buxo dela me acuza!

– Seu  vigáro, tombém tem,
Aqueli  qui é irmão dela,
Armô cumigo um salsêro,
(A irmã: era donzela)
Pegô nóiz no saruê
Na hora fiz foi corrê
Botei sebo nas canela!

Num foi buxo nem irmão,
É qui a cabôca é bunita!
Paréci inté dí canela...
A Geruza, cuja dita,
Êta cunhã véa facêra,
Mi levô fazê bestêra,
Aquela santa mardita!

Na mão do irmão e do véi
Eu tô correno perigo,
Por isso vô casá logo,
Anti mermo do cartigo;
Pra essa diaba bunita
O meu sim é coisa dita
Ela vai morá cumigo!

– Tu já disse que ti casa
Agóra não tem máiz pêa,
Tu sabi qui aqui prã nóis,
Se mexê cum a fía alêa,
Pro caba pagá seu erro
É casóro ou é interro;
Quando poquim dá cadêa !

Dexa  de bestagem hômi.
Que o véi e o fí se acalmô,
Tu buliu no proibido
Agóra tu é devedô,
Só quem paga é qui leva,
Si devê, fica nas treva,
Longe di Nosso Sinhô”!

– Sô  pau na mata brocado,
Tô arriado no chão,
Fiquei todo sapecado
Na quintura da paxão,
Si cum ela eu num casá,
Juro qui vão mi matá
Furano meu coração!
 
– Fí de Deus pense assim, não!
Vancê já vai repará,
Num dexe a vida tão bôa...
Casano isso vai passa.
– Dêssi jeitim seu vigáro
Mi deu junto um rusáro
E mi pediu preu resá!

Rezei pru meu padim ciço
Garantu qui ele mi uviu
Pruque nóiz dóis se casamo
Sei qui o véi Zuza surriu!
Inté  Tôn’iõ o seu irmão,
Tombém mi largou de mão,
Pruque fiz o qui pediu!

Máiz penso tombém qui ela
Rezô foi pru santu Ontô’õi...  
Si num resô e brigô,
Rezô intão pru demo’õi,
Pru santu deu foi cartigo
E o besta ficô amigo,
Inda lhe deu matrimô’õi!

– Amigo a prosa foi longe
Garanto nóiz dóis num vimo
Quando os minino chegaro
E num foi pruque drumimo,
Nóiz tava era concentrado
Oiano o nossu passado
Do jeito qui nóiz sintimo!

E Guza oiava  pru tempo
Passano a mão na barriga;
Eu ficava oiando ela
Cum toda aquela fadiga,
Eu tombém tão fadigado
De tanto oiá o passado,
Dissiassim: Deus num cartiga!

Nun sei o qui tá pensano...
Máiz Guza oia pra cuzin’ã,
Tem fí tumano mingau
Ispií lá na camarin’ã.
Tem uns trêiz fí lá drumino,
Eita qui é tanto minino,
Penso inté qui é dá vizin’ã!

Derde quano sincontremo,
Qui nosso amô tá vogano,
Nóiz dôis trabaia na roça;
Óia que faiz maiz que déiz ano.
E déiz ano nóiz  tá junto
Intão si aqui eu pregunto:
Nossa vida tá andano,

É eu ou ela qui é santo!?
Resposte não meu amigo,
Eu mermo vou respostá;
Si ela si casô cumigo,
Agaranto qui o distino
Dexô de sê perigrino,
Pra nóiz dóis juntá, imbigo!
 
Zanôi Cuma eli só,
É besta essi meu distino
Salvô mermo eu da morte
Acho inté qui é divino
Lascou o tempo no mêi
Vambora pensar  qui vêi,
Amulegano os firino.  
De veneta, mostra o amô,
Oiano, assim sei qui vô
Respeitá essi ladino!

Zé Salvador.
 
S.G. 02-03-2016.

 

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